quinta-feira, 5 de julho de 2012

Melancolia criativa


Preciso de uma boa dose de melancolia pra escrever. Faz parte de meu processo criativo: uma pitada de tristeza e voi là. Poesia prosa romances peças, escrevo de remorsos. Palavras rasgadas. Tomadas ao peito pela pena afiada. Acho que escolho meus relacionamentos pensando nisso, quero dizer, numa decepção. Deve ser por isso que, geralmente, dá tudo errado. É um prazer masoquista, ou uma necessidade física, um pequeno sofrimento pra voltar a escrever. Vicia. A dor. A escrita. Deve ser por isso que dá tudo errado, pelo bem da poesia. A arte imita a vida, a vida imita a arte. Nesse jogo de citação, quem se fode é o escritor que precisa sofrer pra escrever. Agora olho ao redor e não sinto que estou em meu lugar.  Já disse um daqueles papeizinhos de biscoito da sorte uma vez, algo sobre eu não estar no lugar certo. Mas, não dei atenção: comi o biscoito e até o papel com a sorte. Acho que estava certa, quero dizer, a sorte. Pra onde vou, foda-se. Aprender a escrever, pra não precisar buscar inspiração chafurdando em sentimentos aleatórios.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Segurei entre meus dedos aquelas lembranças que carregava comigo. Apertei-as pra lembrar, torci pra ver se restava um pouco de saudade. Pra escorrer um pouco e pingar na ponta de meu medo. Senti sua falta e andávamos de mãos dadas. Continuei caminhando, guardei novamente aquelas saudades de outrora no bolso perto do peito. Os nós dos dedos brancos de tanto apertar aquela velha fotografia. As cores gastas que mancharam minhas mãos; As tintas que mancharam a ponta de meus dedos que passo na ponta dos lábios em um beijo polaroid. 35 mm.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Cansei de escrever sobre você. Tomei outro copo de café, acendi mais um cigarro e a máquina de escrever continua tec-tec-tec incessantemente em minha orelha contando essas histórias. Cansei. Não havia como continuar pra sempre ouvindo essas mesmas histórias sem um dia cansar e trocar a folha, a tipografia e a máquina. Trocar de quarto, de marca de cigarro e uma nova vida. Mesmo a lembrança mais acalentada, a saudade mais gostosa... Tudo acaba um dia, porque existe uma parte do cérebro chamada campo do esquecimento, e ali se perdem as coisas que não são recorrentemente lembradas. Aos poucos a memória falha, logo fica difícil lembrar as suas coisas mais características. Como era mesmo que você atendia ao telefone? Lembro vagamente a maneira como você dormia. Está tudo muito distante. Não tanto não tanto, ao alcance da mão, de um telefonema. Mas, se não bastasse todos os problemas desse lugar, as pessoas insistem em criar mais alguns. Não basta ligar, você se convenceu de que é melhor assim, sem mim. Eu me convenci que consigo esquecer você. Estamos certos? Só deus sabe. Estamos certos de alguma coisa, se isso é a coisa certa a fazer, ninguém sabe. Esquecer é uma maneira de encarar as coisas. Vou contar uma coisa pra você: um dia ainda apareço na sua casa de madrugada, ou ligo bêbado pra você, ainda faço uma loucura e digo na sua cara “escuta aqui, menina, eu amo você” aí então, (ah!), aí então ninguém me segura; eu seguro você num abraço como ninguém jamais e faço-nos lembrar daquele beijo de quando nos conhecemos; aí então eu acordo em minha cama com suas lembranças debaixo do travesseiro. Mas, que importa? Amar é isso, às vezes dá certo, noutras não. Sorte daqueles que encontram um amor pra ficar por perto, o meu está lá longe, bem longe e nem sei onde. Mas, que importa? O que importa é amar, afinal de contas. E disso eu entendo, porque amei demais essa menina. Está bem, vou acender mais um cigarro e voltar pra máquina de escrever pra falar mais de você. Está bem, que mal há nisso?! Tec-tec-tec. Vamos lá, novamente. Houve aquela vez em que...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Sonhei contigo esta noite. Era como um turbilhão imagético de lembranças - beijos e abraços, mordidas e carícias - e BUM explodiu deixando pedaços de saudade pra todos os lados. E pronto, foi a ruína de meu dia, a pior parte de meu dia; todo o meu dia foi pensar em você. Uma confusão confluência convulsão de imagens / Uma confusão confluência convulsão de saudades. E pronto, todo o meu dia foi pensar em você. Acordei, sim. E daí? Que me custa continuar sonhando, ainda que de olhos abertos não tenha tanta graça. Se me lembro bem, houve grandes promessas. Muitas mentiras e um pouco de amor. Sexo pra apimentar a relação. Noites em claro, brigando, trepando, sonhando. Se me lembro bem, porque há tanto tempo atrás que já nem sei mais. De que você lembra? Espero que esqueça algumas coisas e fique com outras, as melhores. Se me lembro bem, prometemos que seria pra sempre. Mas, quantas vezes não prometemos isso pra tantas outras pessoas, nem sei. Todas as promessas parecem eternas, mas no fim, sim, tem sempre um fim. E acabou, ela se foi e foda-se. Restaram migalhas efêmeras de saudade passageira que se vai que já foi por aí rumo a infinitas desventuras na terra do esquecimento.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

É uma proeza: amar tanto uma pessoa. É como um truque de mágica, um daqueles com cartas. Parece mentira. Uma piada de palhaço. Um lenço que sai da manga vazia. Parece o picadeiro em chamas pelos aplausos calorosos das crianças. É o riso sincero. A entrega completa. É uma proeza que só se vê no circo. A maquiagem exagerada do palhaço está borrada de tanto sorrir e o vermelho na ponta do nariz que já está roxo pela falta de ar e dor-de-barriga-borboletas-no-estômago-eu-te-amo. Amar é inacreditável. Parece mentira. É como o tombo e as calças largas, a alegria e as cores do circo, os sorrisos e a pipoca, algodão-doce e muita porcaria, coisas que cabem no picadeiro, que cabem na ponta dos dedos. É Como andar na corda bamba, sapateando, de costas e com os olhos fechados, prendendo a respiração, pensando em você. É o encontro do equilibrista, com seus sapatos enormes sobre a corda que rebola, e a trapezista, com seu bailado inacreditável sobre a cabeça de todo o mundo. Um encontro inimaginável, um beijo aéreo. Um beijo mágico. Tirei um coelho da minha cartola, ele olhou pra mim e disse seu nome. Amar é inacreditável.